A mescla de acontecimentos que tem vindo a ocorrer no quadro político português – que tem a demissão do primeiro-ministro como exemplo maior -, deixa-nos, uma vez mais, a vaguear pela espuma dos dias.
Vale a pena socorrermo-nos de um sempre útil dicionário para esclarecermos um ponto que será interessante de ser conhecido por todos, sem excepção.
Política: “s.f. ciência ou arte de governar uma nação; arte de dirigir as relações de um estado com outro.”
É assim que consta no dicionário. A política como uma ciência ou arte. Interessante conceito este que junta dois sub-conceitos tidos frequentemente como díspares.
A arte, por seu lado, como a exaltação de um estado mais ou menos raro em que o Homem se liberta e se exprime. Por outro, a ciência, como algo rígido e axiomático em que nos fundamos como ferramenta para perceber melhor o que nos rodeia.
Não será por acaso que a política congrega duas áreas opostas. Entre outras razões, poder-se-á explicar pela casta nobre em que a política se insere e pela função primordial que desempenha junto daqueles que representa.
De facto, em Portugal cavalgamos para um afastar progressivo do conceito original de política e o resultado é esta amálgama de decisores de índole política que beiram o diletantismo.
Diogo Vasconcelos, director internacional da CISCO, relembrou numa conferência na Nova de Lisboa que no Reino Unido, país onde exerce as suas funções, as pessoas constroem e sedimentam uma carreira académica e profissional e só depois, se dedicam a uma tarefa política porque só nesse momento teriam algo a dar aos seus concidadãos.
Porque é disto que se trata: de dar um contributo intelectual, cultural, pessoal e de trabalho ao país e aos cidadãos.
Esse contributo deve partir de individualidades que sejam do que melhor há na sociedade. Pessoas que tenham excelentes níveis culturais, académicos e valores intrínsecos como o da honestidade e o da integridade. Não se trata de distinguir as pessoas nem tão pouco de elitismos. Trata-se sim de ter uma escolha criteriosa daqueles que são os mais habilitados a representar e a tomar decisões que são de todos e que a todos diz respeito.
Nesse sentido, a política não deve ser nunca uma profissão. E o que mais temos são carreiras que floresceram de uma fonte puramente política. Esse é, talvez, o sinal mais preocupante do estado das coisas.
A política, nessa ambivalência que é a arte e a ciência, deve saber integrar decisores que bebam constante e recorrentemente de fontes históricas, filosóficas e sociológicas. Porque sem essas ciências basilares, a política é uma nulidade. É um confronto vazio de jogos políticos e de crianças que discutem estratégias em tom baixo para o “adversário” não escutar. São personagens que encenam um papel que não conhecem. Que se digladiam num confronto pessoal a que nós, que esperávamos um confronto de ideias, assistimos tristemente.
in O Centro Social e Jornal Vivacidade